Pensando com retrospecto, começou bem cedo a se construir minha afinidade com o pensamento Junguiano. Quando estava em minha infância, ainda começando a aprender inglês na marra com jogos de PS2, um de meus amigos da escola me apresentou a série "Atelier", onde o tema principal da história de cada jogo da série é a alquímia e essa jornada transformadora que Jung traduz para o funcionamento da psique. Claro que naquela época eu não via dessa forma, mal entendia o que ocorria nos jogos, mas os símbolos alquímicos me cativaram de forma que devorei tudo o que pudesse ter acesso sobre, a ideia de que tiramos forças de dentro de nós auxiliados por conceitos maiores que tudo que possamos imaginar foi intoxicante. De imediato passei a explorar a internet do fim dos anos 2000 procurando ISOs dos outros jogos da serie, tentei até me adentrar nos lançamentos que não haviam nem sido traduzidos ao inglês (sem nenhum êxito). As brincadeiras de quintal passaram a incluir fazer "poções" imitando a maneira como os personagems transformavam mato e pedras em items místicos, e uma obsessão com o calcinatio de items aleatórios, que foi obviamente preocupante aos meus pais.
Por muito tempo esse interesse se viu sublimado, me preocupei com outros hobbies, como a música. Já quando cursando a faculdade de psicologia, meu primeiro contato com as ideias de Jung foi nas aulas de "Introdução às Teorias de Personalidade", onde a professora Freudiana explicou muito bem sua própria abordagem e empurrou com a barriga o resto, mas em específico a Junguiana ela foi extremamente desdenhosa, chamando de misticismo e somente vagamente pontuando os conceitos básicos. Meu complexo opositor à autoridade imediatamente foi constelado, fiz diversas perguntas sobre essa abordagem "cheia de charlatões", poucas foram respondidas, mas fora dessas aula comecei a estudar por conta própria, usava todos os empréstimos da biblíoteca para levar livros da Obra Completa para perusar em casa.
Confesso que, no começo, não fazia ideia do que aquele xamã exilado das aulas padronizavas falava, mas aos poucos fui costurando um manto rudimentar com o qual me vestir antes de chegar os estágios clínicos, onde finalmente tive contato com uma analista Junguiana que me guiou ao entendimento melhor das ideias que até então tentava digerir. Até hoje, anos depois de formado, não sinto que extraí todos os nutrientes desse banquete, mas o manto que tenho usado para suturar a mim mesmo e meus analisandos se transformou imensamente desde aquele tempo, e vai continuar se transformando.
Talvez no futuro eu atualize esta página com algumas explicações e exposições e indagações e escritas incoerentes a respeito, quando estiver com vontade de explorar algun assunto mas não estiver com fôlego para usar de fontes e escrita acadêmica para postagens oficiais. Até então, fica o convite para que embarque nessa jornada se estiver curioso a respeito do mundo símbolico para qual a psicologia analítica nos equipa para enxergar.
O processo alquímico traduzido para o processo de psicoterapia conforme Edward Edinger:
Não recomendo ler isso sem antes ter um entendimento básico dos conceitos Junguianos. Leia o livro do Edinger ao invés de ler essas besteiras. Não vou fingir sem mestre em nenhum desses temas, minha experiência atual é como uma gota no oceano, tenho ainda muito à aprender e meus escritos aqui não tem o intúito de ensinar mas sim de organizar minhas próprias tentativas de aprendizado.
Recentemente acabei por me inserir em uma nova esfera de trabalho que eu não tinha experiência alguma com: a de terapia em grupo. Quando me foi comunicado que teria de coordenar e atuar essa função, isso veio como um choque porque não me senti preparado de maneira alguma para estar atuando desta maneira, minha formação e estudos foram sempre totalmente voltados para a produção teórica e o atendimento individual. Enfim, a partir dali tive que começar a entender do que se tratava, já havia participado de um grupo na capacidade de estagiário, então tinha uma breve noção, mas meu embasamento não me deu confiança para atuar logo de cara, como deveria ser feito.
Como não tinha preparo algum, e peguei um grupo em andamento para dar continuidade, me ferrei bastante até colocar tudo nos trilhos, mas ter que fazer esse malabarismo de aprender ao mesmo tempo que fazer foi interessante para entender meu perfil como profissional e pessoa; minha preferência é sempre estar improvisando. Porém, para improvisar de maneira satisfatória, é preciso de certa bagagem, bagagem que de inicio me faltava, ocasionando situações desagradaveis tanto para mimi quanto para as pessoas que dependiam de mim naquele momento. Tive então que fazer algo que geralmente deixo de lado: planejamento rigoroso.
Planejar os encontros foi de início algo doloroso, porque tive que enfrentar o meu eu que odeia deixar coisas rigidas e impor decisões pre-determinadas para com outras pessoas. Tive que me deparar com meu eu em posição de referência, que enxergo como arrogante e cheio de si. Realmente dar de frente com minha sombra, aquele eu que penso ser meu oposto, e usar dele para facilitar minha vivência e atuação naquele momento. Foi horrível e me deu muita dor de cabeça conciliar esses meus aspectos, passei mal, tive severas dúvidas quanto a minha capacidade como profissional e carater como pessoa, mas hoje consigo equilibrar um breve planejamento com uma estrutura que não seja rigida e deixe abertura para a forma de manejo que sou mais acostumado, e compreendo esses meus aspectos como algo que devo estar sempre olhando e tomando conta para que não fiquem no controle sem supervisão.
Esta página foi modificada pela última vez em: